Por José Moura,
Comissário para as Atividades Culturais no Campus
O 25 de Abril de 1974 é um dos marcos mais importantes da história contemporânea portuguesa. A Revolução dos Cravos pôs fim à ditadura e inaugurou uma nova era de democracia, liberdade e direitos fundamentais. Esta data não é apenas um momento político, mas também um símbolo cultural que, ao longo de 51 anos, tem inspirado arte, literatura, cinema, teatro, música - e também ciência.
Antes da revolução, a censura limitava fortemente a criação artística, o pensamento crítico e a liberdade de investigação. Abril abriu portas à expressão livre da cultura e ciência.
A cultura desempenhou um papel essencial na resistência e continua a ser central nas comemorações. A música, por exemplo, teve um impacto profundo. “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, e “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, tornaram-se senhas do golpe militar e símbolos de liberdade. Cantautores como José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira ou Sérgio Godinho enriqueceram a memória coletiva do 25 de Abril com canções de intervenção. A revolução também se refletiu nas ruas: murais e grafites celebravam a liberdade e davam voz ao povo, marcando o espaço público, influenciando fotógrafos e artistas. No cinema, obras como As Armas e o Povo (1975) ou Capitães de Abril (2000) documentaram e refletiram o impacto do momento revolucionário. No teatro, surgiram coletivos artísticos que abordaram temas antes proibidos, como desigualdades sociais, guerra colonial e resistência política. Muitos escritores silenciados pela censura puderam finalmente publicar: Sophia de Mello Breyner Andresen, José Saramago e Lídia Jorge, entre outros, refletiram sobre o país em mudança, alimentando a memória histórica e o debate democrático.
A ciência, tal como a arte, também beneficiou da liberdade conquistada. O pensamento científico exige debate livre, criatividade e acesso ao conhecimento - valores incompatíveis com regimes autoritários. O 25 de Abril democratizou o ensino superior, abriu as universidades ao mundo e permitiu o desenvolvimento de uma investigação científica crítica, diversa e comprometida com a sociedade. A ciência passou a ser, também, um pilar de cidadania.
Na NOVA FCT, durante as comemorações dos 50 anos de Abril através da iniciativa “A Liberdade está a passar por aqui”, multiplicaram-se exposições de fotografia e artes plásticas, ciclos de cinema, sugestões de leitura e discussões sobre obras censuradas ou inspiradas pela Revolução. Mais do que celebrar o passado, estas atividades reforçam a importância da liberdade como condição para a cultura e o conhecimento.
Ao mesmo tempo, a NOVA FCT reafirma a importância da ciência enquanto parte indissociável da cultura e da liberdade. A produção científica exige pensamento crítico, liberdade de investigação e acesso alargado ao conhecimento - valores que só puderam florescer plenamente após o 25 de Abril. A democratização do ensino superior e o investimento na investigação científica são também conquistas da Revolução, permitindo que a ciência, tal como a arte, se torne património de todos.
A programação na NOVA FCT não se limitou a relembrar os eventos de 1974, mas procurou (e procura) também analisar, criticamente, os seus efeitos na sociedade portuguesa e no mundo contemporâneo. Ao combinar arte, ciência e história, a cultura no Campus não homenageia apenas a Revolução dos Cravos, mas também reforça o seu significado atual: a importância de lutar continuamente pela liberdade, pela democracia e pelos direitos humanos. Nada deve ser dado com adquirido!
Abril 2025