Nuno Lapa, Inês Matos e Márcia Ventura, professor e investigadoras do Departamento de Química, foram os vencedores da última edição do Prémio Inovação Pedagógica da NOVA, com o projeto “Can the Flipped-Classroom Methodology Make the Bioenergy Teaching & Learning Processes More Engaging?”. A equipa partilhou connosco a sua metodologia e as vantagens para estudantes e docentes.
Na foto da esquera para a direita: Inês Matos, Nuno Lapa, Márcia Ventura. Foto de João Lima/NOVA FCT
Em que consiste a metodologia do projeto?
A metodologia da sala de aula invertida (flipped-classroom) baseia-se na realização de atividades, pelos estudantes, previamente à realização de uma aula (normalmente, teórica). O objetivo essencial é o de envolver diretamente os estudantes no processo de aprendizagem, incentivando-os a avançarem na exploração dos tópicos da unidade curricular antes de serem trabalhados na sala de aula.
As aulas teórico-práticas podem ser usadas para se iniciar essas atividades, as quais têm de ser concluídas num período ajustado a cada uma das atividades, mas sempre antes da próxima aula. As aulas teóricas tornam-se, assim, mais participadas, uma vez que os estudantes adquiriram competências prévias sobre o tópico em estudo na aula teórica.
Em que conceitos assenta?
O conceito pedagógico principal é o de colocar o estudante no centro do processo de ensino-aprendizagem, colocando os docentes num papel de instrutores, orientadores ou mentores.
Esta metodologia só funciona com a adesão dos estudantes. Esta adesão é inicialmente conseguida através de um incentivo, o qual corresponde a um peso significativo destas atividades na avaliação final. Mas, se as atividades estiverem bem estruturadas, forem estimulantes, estiverem totalmente enquadradas nos tópicos da unidade curricular e se os docentes utilizarem os resultados dos trabalhos dos estudantes como uma base de exploração de cada tópico na aula teórica, a classificação deixa de ser o motivo principal para os estudantes, passando a motivação a centrar-se no conhecimento mais profundo dos tópicos trabalhados.
Este projeto está a ser aprofundado atualmente?
Este projeto já está em implementação na unidade curricular de Bioenergia (unidade curricular do 1.º ano do Mestrado em Engenharia das Energias Renováveis). Ele começou a nascer no ano letivo de 2017-2018, com o desenvolvimento de atividades digitais (e-atividades), suportadas pela plataforma Moodle@FCT. Foi um processo progressivo.
A transposição das aulas para o modo totalmente online, durante a pandemia da covid-19, foi o motor de aceleração da aplicação desta metodologia a todos os tópicos da unidade curricular. Para além disso, permitiu ainda testar-se diferentes e-atividades em diferentes tópicos, para se perceber quais as e-atividades mais eficazes e com maior aceitação pelos estudantes.
Os anos letivos de 2021-2022 e 2022-2023 serviram para se transpor esta metodologia para o regime presencial e online (misto), que corresponde ao modo de funcionamento atual. Com a metodologia já suficientemente madura, o ano letivo de 2023-2024 serviu para a aquisição de informação que pudesse suportar uma candidatura futura a um concurso pedagógico.
Qual a recetividade dos alunos e que resultados obtiveram?
A média e a mediana das classificações dos estudantes de Bioenergia, no ano letivo de 2023-2024, ano que serviu para base à candidatura ao Prémio, foram superiores às de anos letivos em que a metodologia não estava implementada.
Adicionalmente, os inquéritos curriculares, realizados aos estudantes desse ano letivo, através do CLIP, indicaram um elevado nível de satisfação com esta metodologia pedagógica inovadora. A classificação geral atribuída pelos estudantes à unidade curricular foi de 5,7 num máximo de 6,0, com 12 estudantes totalmente satisfeitos, 3 muito satisfeitos e 1 satisfeito, num total de 23 estudantes avaliados (69,6% de respostas).
Qual foi a maior dificuldade com a qual se depararam neste estudo?
O número de horas dedicadas à unidade curricular de Bioenergia aumentou, uma vez que o número de trabalhos a serem avaliados, em períodos curtos (geralmente de uma semana), aumentou comparativamente à situação em que esta metodologia não estava implementada. Isto significa, objetivamente, que este tipo de metodologias requer um maior investimento por parte da equipa de docentes e/ou, dependendo do número de estudantes inscritos, pode necessitar de um aumento do número de docentes envolvidos na unidade curricular.
Podem desenvolver um pouco os benefícios desta metodologia, comparativamente aos métodos "tradicionais" de ensino, de que forma a relação docente/aluno é beneficiada, tal como, ao nível da aprendizagem, que "upgrade" pode constituir?
Notamos a existência de dois benefícios principais:
O nível de competências adquiridas pelos estudantes é superior à metodologia expositiva. Nos testes individuais, quando colocados perante problemas novos, os estudantes do ano letivo de 2023-2024 tiveram um melhor desempenho do que os estudantes dos anos letivos em que a metodologia da sala de aulas invertida não estava implementada.
A relação entre os estudantes e os docentes é de maior proximidade, devido ao facto de os estudantes ganharem confiança com os tópicos abordados na unidade curricular. Isso reflete-se na maior quantidade de debates que surgem nas aulas teóricas, no maior número de contactos fora da sala de aula para esclarecimento de dúvidas e, mais tarde, na procura dos docentes para o esclarecimento de dúvidas sobre assuntos fora do âmbito da unidade curricular ou para a procura de temas para a realização de dissertações de mestrado.
O balanço da aplicação desta metodologia é muito positivo.
Janeiro 2025