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TaRDIS: O Projeto que Revoluciona os Sistemas Descentralizados

Coordenado por Carla Ferreira, investigadora da NOVA FCT, o projeto TaRDIS (Trustworthy And Resilient Decentralised Intelligence For Edge Systems) reúne uma equipa multidisciplinar de especialistas com o objetivo de desenvolver e acelerar sistemas informáticos inovadores para resolver os desafios da inteligência descentralizada.  Com um financiamento de sete milhões de euros pelo programa Horizon Europe, este projeto ambicioso visa promover a inovação tecnológica na Europa, oferecendo soluções que vão desde a optimização da produção industrial à melhoria das infraestruturas aeroespaciais. Em entrevista, Carla Ferreira explica os principais objetivos do projeto e o impacto que estas tecnologias terão na transformação digital e na competitividade das empresas europeias.

 

Fotografia: João Lima/NOVA FCT

 

Qual o principal problema que o TaRDIS procura solucionar e de que forma a sua abordagem se destaca?

O TaRDIS procura resolver a complexidade associada ao desenvolvimento de sistemas inteligentes descentralizados, uma tarefa que atualmente exige equipas altamente especializadas em diversas áreas, como programação, hardware e segurança. Adicionalmente, muitas das soluções existentes dependem de infraestruturas centralizadas, o que aumenta os custos operacionais, reduz a eficiência e torna os sistemas mais vulneráveis a falhas.

Para ultrapassar estes desafios, o TaRDIS propõe uma abordagem inovadora ao disponibilizar tecnologias que simplificam a implementação de sistemas descentralizados. Com esta tecnologia, os dispositivos podem operar de forma autónoma e colaborar entre si, reduzindo ou eliminando a necessidade de coordenação. O projeto permite o desenvolvimento de aplicações inteligentes, capazes de comunicar e adaptar-se dinamicamente às condições do ambiente, sem depender de um controle centralizado.

A integração de inteligência artificial descentralizada no TaRDIS possibilita o processamento de informação e a tomada de decisões localmente, garantindo maior privacidade dos dados e tornando os sistemas mais eficientes e resilientes. Esta abordagem reduz custos ao minimizar a dependência de grandes infraestruturas, melhora a utilização dos recursos e impulsiona a inovação, reforçando a competitividade das empresas europeias.

Para além do impacto tecnológico, o TaRDIS contribui para a autonomia da Europa no setor digital e industrial, permitindo que empresas desenvolvam soluções inovadoras sem recorrer a tecnologias proprietárias de mercados externos. Desta forma, o projeto fortalece a soberania digital europeia, cria novas oportunidades económicas e promove um ecossistema tecnológico mais sustentável e seguro.

A integração de inteligência artificial descentralizada no TaRDIS permite o processamento de informação e a tomada de decisões localmente, o que garante maior privacidade dos dados e torna os sistemas mais eficientes e resilientes.

O projeto também tem aplicações na área aeroespacial. Que melhorias pode trazer para a gestão de satélites e sistemas de comunicação?

O projeto TaRDIS está a impulsionar a inteligência descentralizada, com avanços significativos para o setor aeroespacial. Atualmente, as constelações de satélites dependem fortemente de comunicações frequentes com estações terrestres para manter a precisão das suas órbitas. No entanto, o TaRDIS está a desenvolver algoritmos inovadores que permitem que os próprios satélites colaborem entre si, trocando informações através de ligações inter-satélites, sem depender de comunicações frequentes com as estações terrestres.

Isto significa que os satélites poderão calcular as suas posições de forma autónoma, tornando as constelações mais resilientes e eficientes, especialmente em missões de grande escala ou na exploração do espaço profundo. Além disso, o projeto integra técnicas avançadas de inteligência artificial para otimizar a comunicação entre os satélites, melhorando a gestão do tráfego de dados sem comprometer a segurança ou a privacidade da informação. Estas inovações contribuirão para a melhoria da eficiência dos serviços espaciais, desde a navegação global à observação da Terra, reduzindo simultaneamente os custos operacionais e a dependência da infraestrutura terrestre.

o projeto integra técnicas avançadas de inteligência artificial para otimizar a comunicação entre os satélites, melhorando a gestão do tráfego de dados sem comprometer a segurança ou a privacidade da informação.

Qual tem sido o papel da NOVA FCT e do laboratório NOVA LINCS no desenvolvimento do TaRDIS? Como tem sido a experiência de colaboração com os parceiros europeus?

A NOVA FCT e o laboratório NOVA LINCS têm tido um papel fundamental no desenvolvimento do TaRDIS, ajudando a criar formas mais seguras e eficientes de programar e gerir sistemas descentralizados, como fábricas inteligentes e gestão inteligente de comunidades de energia. O trabalho da equipa tem garantido que as soluções desenvolvidas sejam fiáveis e fáceis de usar. A colaboração com os parceiros europeus tem sido muito positiva, juntando universidades e empresas para transformar ideias inovadoras em tecnologias úteis no mundo real. Esta parceria tem permitido testar e melhorar as soluções em cenários práticos, assegurando que respondem às necessidades reais da indústria e da sociedade. 

Destaca-se, ainda, o contributo para a formação de engenheiros e a evolução do setor tecnológico ao fornecer acesso a tecnologias inovadoras. A ligação com empresas como EDP, GMV e Telefónica facilita a integração no mercado. No setor tecnológico, o TaRDIS promove a automação e eficiência industrial, impulsionando fábricas inteligentes, redes elétricas descentralizadas e constelações de satélites, garantindo segurança, privacidade e integridade dos dados. Assim, fortalece a formação de engenheiros e impulsiona a inovação no setor.

Quando se espera que as primeiras aplicações práticas do TaRDIS estejam disponíveis?

O TaRDIS já está no seu terceiro ano de desenvolvimento e começa a dar os primeiros passos para se tornar realidade em situações do dia a dia. As suas soluções estão a ser testadas em áreas como gestão inteligente de comunidades de energia, a navegação autónoma de satélites, a privacidade dos dados em redes domóticas inteligentes e a modernização das fábricas. Empresas parceiras estão a experimentar estas inovações para perceber como podem melhorar processos e tornar as tecnologias mais acessíveis e eficientes.

Um dos destaques é a instalação da tecnologia numa fábrica líder na produção de máquinas industriais, onde o TaRDIS irá automatizar a coordenação das operações de montagem e a movimentação interna de materiais, envolvendo robôs, empilhadores e trabalhadores, permitindo uma resposta mais rápida às exigências do mercado, redução de desperdícios e aumento da eficiência. Com esta automação inteligente, a fábrica poderá responder mais rapidamente a mudanças do mercado, reduzir desperdícios e aumentar a eficiência. As soluções do TaRDIS estão já disponíveis num regime de código aberto, mesmo que em fases preliminares, mas a sua aplicação prática com impacto no público em geral está sempre dependente das empresas parceiras e o seu roadmap de produtos.

Uma das principais inovações do TaRDIS está já em fase de implementação prática, com destaque para uma fábrica líder na produção de máquinas industriais, onde a tecnologia está a automatizar a coordenação das operações de montagem e a movimentação de materiais. Este passo permitirá uma resposta mais ágil às exigências do mercado, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência operacional.

Saiba mais sobre o projeto, aqui.

Fevereiro 2025